terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

O sentimento íntimo da morte

O Estado de São Paulo - 07/12/2008 - por José Nêumanne

O impacto provocado pela leitura de Réquiem (Contra-Capa, 64 pp., R$ 38), o poema longo que o alagoano Lêdo Ivo acaba de publicar, mostra que faltava algo em sua obra capaz de elevá-la a um plano mais alto que o patamar por ele já alcançado. Não é fácil dizer isso de um poeta ativo e atuante aos 84 anos e que sempre esteve entre os maiores de sua geração. Ele chegou a esta idade "inteiro", como notou Ivan Junqueira, seu colega de poesia e de Academia Brasileira de Letras, na introdução à sua Poesia completa (Topbooks). Hoje ele já não tem um pedaço, um tudo, que continua sendo "sempre nada/ e coisa nenhuma", mas agora o é mais ainda, pois lhe faltava a dor, como intuiu Mario de Andrade em carta ao jovem Lêdo. A dor a que se referiu Mario se apresenta no grave e sóbrio cenho e na expressão dolorida de seu retrato desenhado por Gianguido Bonfanti, reproduzido na edição. Nela os versos de Lêdo são intercalados com pinturas de Gonçalo Ivo, seu filho, também autor da capa, simples e branca, atravessada por fios que lembram uma pauta musical ou uma rede elétrica povoada por andorinhas sinistras.

Nenhum comentário: