terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

As cozinheiras da literatura

Folha de São Paulo - 27/11/2008 - por Nina Horta

Quando ia escrever sobre Virginia Woolf e suas empregadas (pois essas antigas histórias são exatamente as nossas histórias de hoje), a editora Cosac Naify me mandou um livro fisicamente muito lindo, três contos de Gertrude Stein, em Três vidas" (248 pp., R$ 46 – Trad. Vanessa Bárbara). Dois contos são de empregadas da classe trabalhadora de Baltimore, gente que Gertrude conheceu na infância. A história mais alentada é de uma mulher negra de classe média, um tipo de mulher que ela conhecera durante seu estágio de obstetrícia no hospital John Hopkins. O livro reflete a epígrafe que ela coloca no começo do livro: "Donc je suis un malheureux et ce cest ni ma faute ni celle de la vie", do poeta Jules Laforgue. São mulheres servis, apáticas, menos a negra Melanctha, numa história perspicaz sobre a mulher negra de classe média que surgia naquela época. Antes, a editora já me mandara Três contos, de Flaubert, o primeiro deles sendo a vida simples da criada Felicité, uma pequena obra-prima que trata do nada, ou melhor dos 50 anos de serviço da empregada Felicité. Gertrude Stein sem dúvida se inspirou nesses contos para escrever os seus.

Nenhum comentário: